A escrita criativa após o ChatGPT
 



Dica de Escrita

A escrita criativa após o ChatGPT

Emilly Garcia


Sempre que uma nova tecnologia é lançada com a promessa de impactar nossas vidas, surgem desde teorias apocalípticas a discursos entusiastas sobre seu uso. Medo e fascínio parecem ser sentimentos concomitantes quando o assunto são as inovações tecnológicas. "A tecnologia está aí para nos movimentar. Ela nos assusta, é natural que nos assuste", ressalta Marcelo Spalding.



Confira também vídeo de Marcelo Spalding sobre o assunto


E um tema em especial tem provocado debates acalorados entre cientistas, professores e até entre escritores: é o ChatGPT, um chatbot (uma espécie de robô que conversa) dotado de inteligência artificial, capaz de fornecer respostas elaboradas, fazer cálculos matemáticos, criar códigos de programação e gerar textos sob demanda, além de outras funcionalidades. Lançado no ano passado pela startup OpenAI, esse chatbot é visto como o principal concorrente do Google.

Em resumo, quando o usuário digita uma pergunta ou determina uma tarefa, o ChatGPT faz uma busca na internet, em todas as informações já publicadas sobre aquele assunto e, em poucos segundos, dá a sua devolutiva. E quanto mais utilizado, mais ele "aprende", seguindo a lógica do machine learning (ou aprendizado da máquina).

Mas o que o ChatGPT tem a ver com a escrita criativa?

Bem, como uma de suas funções é a geração de conteúdo, existe um medo crescente de que o ChatGPT possa substituir os escritores na produção de textos literários, podendo até mesmo abalar o mercado editorial. Esse medo não é de todo infundado, pois, de acordo com um levantamento recente realizado pela agência Reuters, em torno de 200 ebooks vendidos na loja da Amazon tiveram a co-autoria do ChatGPT.

No entanto, dizer que um robô poderá desempenhar, com mesmo afinco, o árduo trabalho de um escritor ao conceber uma história original soa quase como um enredo de ficção científica escrito por Isaac Asimov, criador das três leis da robótica.

Para Marcelo Spalding, "qualquer inteligência artificial é, no limite, lógico-matemática". Nessa direção, por mais sofisticada que seja, dificilmente uma inteligência artificial conseguirá reproduzir a criatividade humana, o pensamento crítico, o imaginário coletivo tão presente na literatura, o senso poético e a linguagem simbólica. "Eu poderia resumir a literatura como a arte da palavra, é escrever com arte. Nós, escritores, escrevemos também com o coração, com a alma, com aquilo que nos faz sangrar. E quando escrevemos algo além do burocrático, não tem como uma inteligência artificial nos imitar", avalia.

A partir do que disse Marcelo Spalding, decidimos testar o ChatGPT. Pedimos para a ferramenta criar um poema sobre a amizade e o resultado foi um texto com vocabulário limitado, rimas pobres, repleto de clichês e frases rasas.




Até que ponto textos assim, baseados em arranjos de algoritmos, podem ser chamados de escrita criativa? Por isso, muita calma, caro escritor! Há ainda muitas perguntas a serem respondidas, uma delas é se o ChatGPT veio para ficar, o que nem Isaac Asimov saberia responder. A outra é se o leitor conseguirá diferenciar, pela qualidade e complexidade, um texto escrito por um humano de outro escrito por uma inteligência artificial. Marcelo Spalding aposta que sim. "A escrita criativa vai ser, cada vez mais, aquilo que diferencia nosso texto do que é escrito por um robô, de forma automática", afirma.

Enquanto isso, quem sabe o ChatGPT possa servir de inspiração para narrativas futuristas, de ficção especulativa ou distopias.

 

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